quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Unidade em favor das mudanças


     A vitória da Unidade Popular pelo Rio Grande nas últimas eleições nos abriu um novo período político, marcado pela necessidade de consolidarmos um projeto pós-neoliberal no Estado, em sintonia com nossa experiência nacional, iniciada pelo Presidente Lula, e que avança, agora, sob o governo Dilma.
     O processo, em curso, de conformação de uma nova hegemonia política no Estado pressupõe a aplicação prática de uma estratégia que combine o estabelecimento de um novo patamar de relações entre os partidos de esquerda e um diálogo politizado e programático com os partidos de centro.
     Assim, a tática eleitoral do partido em direção às eleições de 2012 deve guardar coerência com a lógica que nos possibilitou a inédita vitória política, em primeiro turno, nas eleições de 2010. Consequentemente, o debate deve transcender os limites de um ou outro município. Trata-se de projetarmos uma ação articulada, de caráter estratégico, com a responsabilidade de quem governa com maioria e implementa, com sucesso, um projeto de profundas mudanças no Rio Grande.
    Também estamos desafiados a pensar a respeito da contribuição que o novo governo do Rio Grande pode ofertar ao debate sobre a necessária renovação da
agenda democrática, neste início de século, o que certamente nos leva, também, a refletir sobre as perspectivas da esquerda brasileira nas próximas décadas.


A Esquerda gaúcha e o futuro da Revolução Democrática

      O aprofundamento da Revolução Democrática no Brasil depende, em grande medida, da capacidade que a esquerda brasileira terá em superar os limites que a experiência de governar o País com o atual sistema político nos impõe. Não será possível reformar nosso sistema democrático, promover a ampliação do controle público sobre o Estado, ampliar a esfera de participação popular, sem que organizemos um bloco de forças com um grau mínimo de coesão e fundamentação programática. Ou seja, a superação dos grandes impasses da democracia brasileira carece de uma frente política, hegemonizada pela esquerda com amplitude e consistência programática, capaz de liderar esse processo em âmbito nacional.
     São grandiosos os desafios para a esquerda mundial neste início de século. Frente à crise econômica internacional, cujos desdobramentos ainda serão conhecidos por um largo tempo, o Brasil figura como uma das raras exceções, nas quais a esquerda teve a capacidade de manter-se governando, sem abrir mão de sua visão de Estado, sem render-se à dogmática neoliberal, como ocorre nos casos da Grécia e Espanha.
    No entanto, sabemos que a consolidação de um projeto pós-neoliberal no país, que aponte para a renovação da utopia socialista e democrática ainda é uma tarefa inconclusa. Situar o Brasil entre as cinco maiores economias do planeta e, ainda, integrar os milhões de brasileiros que ainda se encontram à margem do atual padrão de desenvolvimento é um desafio que a esquerda brasileira assumiu para os próximos anos, mas cujo sucesso está longe de ser garantido.
    Também devemos apresentar respostas teóricas e práticas à temática da democracia no novo século e sobre as saídas para a crise da representação, que se abate sobre os regimes democráticos em todo o mundo.
     Repensar autopia democrático-republicana à luz dos dilemas postos pela sociedade da informação é uma tarefa imperiosa para a esquerda em escala global.

A responsabilidade do PT gaúcho

     Estamos cientes de que nenhuma experiência de governo isolada e, menos ainda, nenhum partido isoladamente poderá apresentar respostas consistentes ao complexo conjunto de temas que esboçamos aqui. Poderíamos, inclusive, enumerar diversos outros. Mas o fato é que o governo do Rio Grande do Sul pode e deve colaborar com o esforço de renovação do pensamento da esquerda contemporânea.
     Diante da complexidade desta tarefa, cumpre observar o posicionamento privilegiado do Rio Grande em relação ao tema da renovação da agenda democrática. A cultura cívica de participação popular e cidadã e toda a história de inovação democrática construída pelos governos populares gaúchos, em especial em Porto Alegre, tendo como referência o Orçamento Participativo, nos indicam uma possibilidade de interferência na agenda política nacional cujo conteúdo pode ser absolutamente positivo para a esquerda brasileira e para o PT.
     Dessa forma, organizar uma agenda de renovação da utopia socialista no Brasil passa a compor as preocupações dos setores empenhados no sucesso do governo Tarso. E um dos desafios será, exatamente, o de recompor, num outro patamar, as relações com as forças de esquerda, criando novas possibilidades
para a discussão a respeito da governabilidade necessária a um governo para enfrentar uma longa transição.
Manter coesa a Unidade Popular pelo Rio Grande e avançar na conformação de uma frente de centro-esquerdo, com hegemonia dos partidos de esquerda, é tarefa e responsabilidade do PT gaúcho.
     E é nesse contexto que devemos pensar as eleições municipais de 2012.
     É absolutamente legítimo e compreensível que o PT apresente nomes em cidades importantes como Porto Alegre, Pelotas, Santa Maria, Caxias, Canoas etc. O fechamento de chapas, porém, deve ser feito a partir de uma mesa comum, que reúna primeiro os partidos de esquerda e centro-esquerdo, ampliando em direção ao centro democrático que tenha interesse em compartilhar conosco.
     O PT deve apresentar nomes e debater quais as melhores condições para que esse campo político, que apenas inicia a construção de uma nova hegemonia no estado, possa sair fortalecido e ainda mais potente do pleito municipal do ano que vem.
     Não podemos orientar o debate a partir de uma lógica particularista, cujo desfecho só pode ser o isolamento e a fragmentação de nossa frente política no plano estadual.
Queremos aprofundar as mudanças que estão em curso no Brasil e no Rio Grande e para isso o poder municipal é um elemento importante para a consolidação de um projeto democrático, republicano e orientado para a promoção da justiça social e da cidadania.
    A responsabilidade do PT gaúcho é imensa e não podemos abrir mão de nossa condição de partido democrático, não sectário e que aprendeu com a experiência
prática a governar transformando, sem desrespeitar os fundamentos da democracia. Esse é um aprendizado valioso e que nos leva concluir que não somos donos da verdade e, tampouco, infalíveis, e isso faz parte da essência de nosso projeto político.
    Devemos caminhar para uma grande vitória eleitoral em 2012, consolidando a força política transformadora do PT, aprofundando a capacidade dirigente do PT e as mudanças estruturais que apenas iniciamos.

Rio Grande do Sul, 20 de setembro de 2011.
Jairo Jorge, Jorge Branco e Vinícius Wu*


*Jairo Jorge - Prefeito de Canoas
Jorge Branco - Diretor-Presidente da Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH)
Vinícius Wu - Chefe de Gabinete do Governador Tarso Genro