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O Brasil da última década deixou para trás o país das incertezas, do desemprego, da política externa da subordinação às grandes potências e das mágicas cambiais que reelegeram FHC em 1998. Os últimos dez anos serão lembrados pela história como a década da retomada – mesmo que o reencontro ao caminho do desenvolvimento tenha se dado a partir de 2003, e com ainda mais vigor no segundo governo do Presidente Lula.

O Partido dos Trabalhadores tem tudo a ver com essa história. A eleição do primeiro operário à presidência resulta de processo político, de materialização da luta dos trabalhadores na forma de um partido de massa, que admitindo as diferenças de opiniões em um espectro de esquerda muda e desafia a política brasileira. Aqui no Rio Grande do Sul não foi diferente, e hoje temos a oportunidade de recolocar nosso estado no rumo do Brasil, com o governo de Tarso – que já nos seus primeiros dias que a disposição de mudar o Rio Grande não era discurso eleitoral, e sim um projeto a ser executado e que já apresenta resultados concretos.

Porém, o partido que hoje é o maior do Brasil na preferência dos eleitores, exerce a condição de força hegemônica da política nacional governando o país com a presidenta Dilma, governa estados e municípios pais afora não pode resumir que sua luta acaba na contagem dos votos de cada eleição que disputa. O PT precisa assumir para si não somente a condição de portador do poder oriundo da confiança popular, mas precisa processar politicamente os grandes temas de interesse nacional, como é o caso recente da Reforma Política, que volta à pauta neste ano no congresso nacional. Esperamos que esse debate enfrente com a devida intensidade a questão do financiamento de campanhas, o sistema de representação no parlamento, fidelidade partidária, enfim, busque as adequações necessárias ao aprofundamento e radicalização da democracia brasileira e que o PT seja seu protagonista, como foi aprovado no III Congresso Nacional do partido.

Além disso, o partido tem como grande desafio vencer as tentações da política tradicional, a acomodação gerada pelo exercício de poder, onde as decisões tomadas na esfera pública subtraiam do partido a capacidade de debater e processar internamente a política. Um partido que exerce a hegemonia é aquele que orienta as decisões do seu governo, e não aquele que espera do governo a orientação política para consolidar posições e opiniões. A verdade é que, hoje, têm faltado ao PT a energia e disposição para enfrentar este desafio. Os espaços que permitam a formação de consensos a partir de nossas diferenças são escassos.

Não nos resignamos com a idéia de que o partido que ajudamos a construir possa ficar parecido com a idéia tradicional dos partidos de cúpula. Também temos desacordo com a visão de que só grandes blocos mereçam ter vez e voz dentro do PT. Nosso partido historicamente defendeu o respeito às minorias, nesse sentido apresentamos a idéia de um novo movimento político que reivindica o direito de apresentar suas idéias de forma independente da tutela de qualquer instância.

Esse movimento que referimos tem presença no Rio Grande do Sul, com representatividade em todas as regiões do estado em dezenas de municípios. Unifica-nos o sentimento de que as correntes tradicionais não têm dado conta da necessidade de oxigenação de idéias que deve nos mover na direção do enfrentamento aos desafios do nosso tempo. Por isso não aderimos e não faremos movimentos de adesão a nenhuma dessas correntes, sem que isso signifique uma relação bloqueada, não dialógica que não observe a necessidade de diálogo interno que oportunize acordos mínimos, consensos internos que façam o PT avançar na luta política. O que defendemos é justamente o contrário: uma relação interna desbloqueada, aberta e de respeito às diferentes opiniões.

Por isso, para acender este debate sobre os temas aqui mencionados e outros tantos, convidamos a militância petista para um Calendário Estadual de Conferências, no período de junho a agosto, que percorra seis macrorregiões do Rio Grande do Sul e se encerre em uma grande Conferência Estadual no mês de agosto. Nesse processo de debates pretendemos acumular melhor nossas opiniões sobre conjuntura estadual, nacional e internacional, e sobretudo nossa opinião sobre o PT e nossa forma de organização.

Para que este calendário seja realizado e possa estar legitimado como um processo fundacional no que diz respeito ao nosso movimento, é necessário que este plenário aprove uma Comissão Orgnizadora, que dirija estes trabalhos de forma legítima e reconhecida.